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Por que a endometriose pode voltar após cirurgia e como evitar?

Por que a endometriose pode voltar após cirurgia e como evitar?

Mulheres com Endometriose podem saber descrever para outros que a dor relacionada à doença é um sintoma que ocorre quando o tecido que reveste o útero “cresce onde não deveria”. Mas a dificuldade fica maior quando a descrição precisa ser sobre o quão debilitante a dor pode ser.

Pacientes que sofrem com a doença normalmente estão familiarizadas com as dores, mas podem se sentir extremamente frustradas quando, mesmo depois de passar por diversos tratamentos, a Endometriose volta. Especialmente as que passaram por procedimentos cirúrgicos.

Por que a Endometriose pode retornar, mesmo após a cirurgia?

O motivo exato pelo qual a Endometriose pode voltar após a cirurgia ainda não é conhecido ao certo, assim como não sabemos explicar o que causa a doença em 100% dos casos. No entanto, existem várias teorias bem aceitas sobre o desenvolvimento, antes e após a cirurgia.

Anormalidades estruturais e funcionais do útero: anormalidades estruturais do útero podem contribuir para contrações uterinas anormais, aumentando a menstruação retrógrada.

Menstruação retrógrada: fluxo reverso menstrual, transportando células endometriais, que se implantam e começam a crescer fora do útero, normalmente em direção às tubas uterinas e cavidade pélvica, espalhando-se sem ter por onde sair durante o ciclo.

Predisposição genética: alguns polimorfismos (características genéticas) são mais comuns em mulheres com endometriose, e mulheres que têm um membro da família com Endometriose tendem a ter maior probabilidade de desenvolver a doença. Ex: se você tem uma irmã com endometriose, há um risco cerca de 7x maior de também ter endometriose e, por isso, uma boa consulta e exame de imagem são importantes.

Disfunção imunológica: muitos estudos sugerem que a Endometriose pode ser causada por disfunção imunológica, em que o sistema imunológico não pode reconhecer ou eliminar crescimentos endometriais extra-uterinos como deveria.

Qualquer um desses fatores pode causar uma mulher a desenvolver ou ter uma recorrência da Endometriose, mesmo após a cirurgia.

Além disso, uma causa frequente de “recidiva” de endometriose é a cirurgia incompleta, seja combinada ou não. Ex: quando há acometimento dos nervos hipogástricos bilaterais e o cirurgião opta por deixar lesão de endometriose para não causar dano no sistema nervoso e complicações permanentes, como retenção urinária e incontinência fecal.

Não recomendamos cirurgias de ablação. Preferimos sempre cirurgia de ressecção (retirada completa da lesão de endometriose), pois está associada a menor taxa de recidiva.

Mesmo sendo uma doença de tratamento complexo e que pode retornar após a cirurgia, há alternativas para ter uma taxa menor de recidiva da Endometriose.

Tratamento hormonal: vários estudos mostram que o uso prolongado da terapia contraceptiva oral após a cirurgia pode reduzir a recorrência da doença. Isso pode ser feito com contraceptivos orais combinados (pílulas), progestagênios (ex: desogestrel, dienogeste), Mirena, Implanon, adesivos (Evra), anel vaginal (Nuvaring), entre outros.

Outras opções em vez de contraceptivos hormonais incluem: agonistas do receptor de hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH, medicamentos apenas com progestina, derivados de testosterona e inibidores da aromatase).

Gravidez: pesquisas sugerem que engravidar após a cirurgia de Endometriose, pode ter um efeito protetor contra a recorrência e a dor associada à doença.

No entanto, é de extrema importância reforçar a necessidade de conversar com um médico especializado que entenda seu histórico e acompanhe o seu caso de forma exclusiva. Dessa maneira a oportunidade de encontrar um tratamento assertivo é muito maior.

Obrigado pela leitura.

Dr. Renato Tomioka