Adenomiose
A adenomiose é uma doença em que focos semelhantes ao endométrio (camada mais interna do útero) são encontrados no miométrio, a camada muscular lisa que forma a parede uterina.
Os focos de endométrio continuam a crescer e sangrar (“menstruar”) a cada ciclo menstrual, o que leva ao aumento do volume uterino, dor pélvica e sangramento genital. Algumas mulheres sangram grandes volumes todos meses, levando à anemia.
Qual é a causa da adenomiose?
Há diferentes hipóteses para o surgimento da adenomiose. A mais aceita é a de que, gradativamente, o endométrio se infiltra na parede do útero, carregando células que podem formar grupos e até mesmo nódulos, chamados adenomiomas, dentro da parede uterina.
Essa teoria é conhecida como TIAR (Tissue Injury And Repair): a linha entre o endométrio normal e miométrio é “quebrada” por algum motivo (ex.: curetagem, cirurgia uterina, abortamento) e o reparo leva à cicatriz anormal, que pode formar a adenomiose.
Quais são os tipos de adenomiose?
Classificamos a adenomiose em quatro tipos:
- Adenomiose difusa: acomete o útero de forma difusa, levado ao aumento global do útero.
- Adenomiose focal: pequenos focos de adenomiose em área específica do miométrio.
- Adenomiose focal nodular ou adenomioma: focos próximos levam à formação de lesão nodular, como um mioma, mas constituído por adenomiose.
- Adenomiose externa: quando os focos de endometriose pélvica invadem a camada superficial e muscular do útero, com intensas aderências.
Qual é a relação entre adenomiose e endometriose?
Adenomiose é uma doença do útero, e a endometriose é uma doença extra-uterina. Ambas são caracterizadas pela presença de focos de tecido semelhante ao endométrio em outras regiões e crescem com o estímulo do estrogênio.
Antigamente, a adenomiose era conhecida como “endometriose interna”, mas sabemos que as origens, fisiopatologias e tratamentos são distintos e o termo caiu em desuso. Muitas pacientes (40 a 70%) com endometriose têm também adenomiose. Por isso, a avaliação detalhada e adequada é importante para o tratamento ideal.
Sinais e sintomas da adenomiose
Em poucos casos, a adenomiose não gera sintomas, ou apenas pouco desconforto pélvico. Mas a maioria das pacientes apresenta:
- Sangramento uterino aumentado: menstruação ou sangramentos entre os ciclos de grande volume e por vários dias, necessitando trocar absorventes com maior frequência.
- Cólicas menstruais intensas
- Dor pélvica crônica
- Dor nas relações sexuais: principalmente na penetração profunda
- Útero de volume aumentado: ultrassonografia ou ressonância magnética de pelve mostram útero com volumes > 100 cc, cistos e focos hiperecogênicos periendometriais, nódulos (adenomiomas), e endometriose associada em muitos casos.
Fatores de risco
A adenomiose é mais frequente após os 35 anos e em quem já engravidou e teve partos. Porém, também pode acometer mulheres mais jovens e sem filhos, especialmente as que já foram submetidas a cirurgias no útero, como curetagem, aspiração intrauterina, histeroscopias (ex: retirada de miomas) e cesáreas.
PROBLEMAS ASSOCIADOS À ADENOMIOSE
Sangramentos intensos e prolongados durante os períodos menstruais podem levar a anemia crônica, que causa fadiga e outros problemas de saúde. A dor e o sangramento excessivo associados à adenomiose podem piorar a qualidade de vida, levando à dor crônica e distúrbios associados.
A adenomiose aumenta risco de infertilidade, falha de implantação embrionária, abortamento e parto prematuro.
POR QUE A ADENOMIOSE ESTÁ ASSOCIADA À INFERTILIDADE?
A adenomiose é interpretada como uma lesão, e o organismo tenta cicatrizar os tecidos, reduzindo a ação da progesterona, hormônio importante para a implantação do embrião. A adenomiose também provoca uma resposta inflamatória exagerada, que pode dificultar a implantação. Além disso, pode ocorrer um aumento na contratilidade uterina, capaz de causar abortamentos ou parto prematuro.
COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DA ADENOMIOSE?
Durante a consulta especializada, dados da história clínica e exame físico sugerem adenomiose. Solicitamos exames de imagem para fechar o diagnóstico, sendo os principais: ressonância magnética de pelve e ultrassonografia transvaginal. É importante fazer a ressonância magnética fora do período menstrual, pois as contrações uterinas dessa fase podem mimetizar adenomiose e gerar “falsos positivos”.
QUAL REGIÃO DO ÚTERO É MAIS AFETADA PELA ADENOMIOSE?
A parede posterior do útero é a região mais acometida pela adenomiose. Pode ser superficial (quando acomete até um terço da parede do útero) ou profunda (quando a porção atingida é superior a um terço da parede uterina).
Tratamento
Existem algumas opções de tratamento:
- Sintomáticos para controle da dor e sangramento: analgésicos (dipirona, paracetamol, escopolamina), anti-inflamatórios não hormonais (ex: cetoprofeno, ibuprofeno) e ácido tranexâmico (ex: Transamin®)
- Medicamentos hormonais: pílulas anticoncepcionais (combinadas ou apenas de progestagênio), anel vaginal, adesivo transdérmico, implantes subdérmicos (Implanon®, pellets de gestrinona), DIU hormonal (Mirena®, Kyleena®), análogos do GnRH (Lupron®, Lectrun®, Zoladex®, Gonapeptyl®)
- Cirurgia: retirada do útero (histerectomia), quando a dor é intensa e os tratamento clínicos não resolvem ou quando há contra-indicação para o uso de medicamentos. Normalmente, realizamos por laparoscopia ou robótica.
A escolha terapêutica depende também do objetivo quanto à fertilidade. Por exemplo: mulheres que pretendem engravidar podem fazer o bloqueio da adenomiose com agonistas do GnRH após o congelamento de embriões na FIV, realizando a transferência embrionária no útero menos inflamado.
ADENOMIOSE TEM CURA?
Sim. Por ser uma doença uterina, a retirada do útero (histerectomia) leva à cura da adenomiose.
PILARES IMPORTANTES
As ferramentas clínicas e cirúrgicas visam a tratar e controlar a adenomiose, de modo que as mulheres consigam viver sem dores constantes, controlarem o sangramento e anemia, e melhorarem a fertilidade.
Por ser também uma doença inflamatória, como a endometriose, é fundamental ter uma alimentação com alimentos de verdade, nutricionalmente densos, com redução daquilo que pode inflamar o corpo (ex: gorduras trans, glúten e lactose para algumas pessoas).
Sono consistente e de qualidade, com cerca de 8 horas por noite, é fundamental para manutenção da saúde e imunidade.
Atividade física regular está associada a melhora dos sintomas, e recomendamos pelo menos 3- 4x/semana, intensidade moderada.